Saturday, August 17, 2013

Des. Abafo

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O machismo, aquele, que é meu, é seu, do seu pai, irmão, vizinho e melhor amigo..
o de cada e todos os dias.
Este.. me deixa em brasa, me deixa sem fôlego, dá-me o ar para gritar contra ele, tira-me o direito de respirar quando quero expressar vontades e desejos que dele descordam..

As vezes acho que este é um medo sem fim, o medo de vestir minhas saia verde, que é meu medo de andar sozinha, que é o medo dos olhares de desaprovação misturados ao deleite de cobiça ao pedaço de carne desejada, é o medo do caminho de ida, de volta, o medo do estupro, que é o medo do machismo.. este que não me deixa viver, que não me permite respirar..

permita-me te dizer uma coisa,.. as imagens são misturadas, as estatísticas inexatas, a pressa é recorrente, devo continuar andando, não posso parar, deve ser forte, por mim, por ela, por todas aquelas...

Depois de alguns anos de tratamento no HC as imagens não ficaram melhores, não se transformaram, não resignificaram o suficiente para que eu olhasse para aquelas garotas e visse algo diferente de vítimas do machismo injetado em nossas vidas. Corre medo na veia de cada um de nós, o medo de nossas próprias imagens, o medo de nossas lembranças, o medo do dia, o medo da noite.. 
A maioria dos transtornos enfrentados por nós naquelas manhãs frias são fruto da opressão, que fica abafada dentro do nosso peito, dentro de nossas coxas,.. Unhas, cabelos, umbigo, nariz.. nada disso é meu, sou mulher, tudo isso foi posto ao mundo, o machismo fez isso comigo, fez com todas nós, transformou meu corpo na sua vontade, transformou minhas penas na sua opção de diversão, transformou meus sonhos nos seus desejos escrotos...minha fome no seu petisco arrancado de mim no meio da rua..

Apago as luzes com medo que me vejam, escondo meus medos em meio a risadas e brincadeiras que não tem graça e nem provocam alegria alguma.. Queria poder sentir calor, fome, saudade sem seus olhares sobre mim, seu olhar que veste essa lente de machismo que um dia vestiu a cada um de nós.. e nem todos percebem que pode ser retirada..nem todos querem..

Não tenho mais certezas, minha boca tem medo de falar, minhas palavras falham nas conexões,..
só sei que o machismo oprime a mim, as minhas palavras, sonhos, desejos,..liberdades..
o medo me cala, me ouve, me faz chorar e o pranto abafado quando posto pra fora faz com que você me ache fraca e miserável..


Enfrento as contradições de cada dia em todos os instantes da minha vida, em todas as minimas ações que opto por realizar com medo ou por não realizar com medo..
e perco o compasso e o fôlego para continuar sobre isto...

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