Tuesday, December 01, 2009

* O operário em construção
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.E Jesus, respondendo, disse-lhe:– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.Lucas, cap. V, vs. 5-8.Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia, por exemploQue a casa de um homem é um temploUm templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.De fato, como podiaUm operário em construçãoCompreender por que um tijoloValia mais do que um pão?Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadriaQuanto ao pão, ele o comia...Mas fosse comer tijolo!E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreriaNão fosse, eventualmenteUm operário em construção.Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo diaÀ mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue tudo naquela mesa– Garrafa, prato, facão – Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário, Um operário em construção. Olhou em torno: gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem o fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão.Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento! Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela.Foi dentro da compreensãoDesse instante solitárioQue, tal sua construçãoCresceu também o operário.Cresceu em alto e profundoEm largo e no coraçãoE como tudo que cresceEle não cresceu em vãoPois além do que sabia– Exercer a profissão –O operário adquiriuUma nova dimensão:A dimensão da poesia.E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operário diziaOutro operário escutava.E foi assim que o operárioDo edifício em construçãoQue sempre dizia simComeçou a dizer não.E aprendeu a notar coisasA que não dava atenção:Notou que sua marmitaEra o prato do patrãoQue sua cerveja pretaEra o uísque do patrãoQue seu macacão de zuarteEra o terno do patrãoQue o casebre onde moravaEra a mansão do patrãoQue seus dois pés andarilhosEram as rodas do patrãoQue a dureza do seu diaEra a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.E o operário disse: Não!E o operário fez-se forteNa sua resolução.Como era de se esperarAs bocas da delaçãoComeçaram a dizer coisasAos ouvidos do patrão.Mas o patrão não queriaNenhuma preocupação– "Convençam-no" do contrário –Disse ele sobre o operárioE ao dizer isso sorria.Dia seguinte, o operárioAo sair da construçãoViu-se súbito cercadoDos homens da delaçãoE sofreu, por destinadoSua primeira agressão.Teve seu rosto cuspidoTeve seu braço quebradoMas quando foi perguntadoO operário disse: Não!Em vão sofrera o operárioSua primeira agressãoMuitas outras se seguiramMuitas outras seguirão.Porém, por imprescindívelAo edifício em construçãoSeu trabalho prosseguiaE todo o seu sofrimentoMisturava-se ao cimentoDa construção que crescia..*

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